Por Fábio Mattoso
Com mais de 20 anos de carreira, tive a oportunidade de conferir diversas edições do HIMSS Global Health Conference & Exhibition, um dos maiores eventos globais de tecnologia da área da saúde. A conferência é promovida pela Healthcare Information and Management Systems Society, organização americana sem fins lucrativos, dedicada a aprimorar os cuidados de saúde, além de ser o maior sobre saúde digital do mundo, reunindo mais de 35 mil pessoas em Orlando, nos EUA, de 11 a 15 de março de 2024.
E, esse ano não foi diferente. Como prometido, o evento estava bem maior, com espaços inéditos como o Pavilhão Brasileiro, o Brazil Summit, que contou com debates pertinentes capitaneados por representantes de instituições como Kora Saúde, HCor, Hospital Albert Einstein, entre outros, nos quais as empresas brasileiras puderam apresentar seus cases, marcando uma mudança de mindset do setor ao tirar o Brasil da caixa de apenas consumidor e elevar o país para um potencial fornecedor e colaborador em tecnologia.
Outro ponto positivo, que chamou muito a atenção, foi a presença de empresas multinacionais ocupando estandes imensos e trazendo muito conteúdo tecnológico healthcare, como a Microsoft, Oracle, Salesforce e Google. Mas, mesmo com essas gigantes na conferência, o sentimento que tive desbravando os corredores do pavilhão foi que as soluções apresentadas eram de prateleira, ou seja, que não se encaixam para o mercado de saúde de hoje e nem dos próximos cinco anos.
Já as empresas de consultoria estavam em peso no HIMSS 2024, assim como todos os anos. O fato é que desde as médias até as grandes, como a Mckinsey, estavam oferecendo soluções tailor-made, mais agnósticas para aquele cliente, uma tendência já vista no mercado há alguns anos. Porém, em poucas trocas percebe-se que todas começavam com a mesma pergunta: “Qual é a sua dor?” e falando como a pessoa que está do lado de cá, já que muitas vezes o cliente não sabe qual é a sua dor ou se ela é realmente uma dor. Então, sem essa resposta do cliente, eles acabam não sabendo como ajudar.
Contrapondo isso, a feira oferecia um número muito grande de softwares de gerenciamentos de cuidados, desde voltados para pacientes crônicos até mais específicos, como para os pacientes com transtorno do espectro autista, gestão de crônicos e virtual nursing. Esses programas e soluções, se desenvolvidos e aplicados, prometem ajudar muito, tanto paciente como médicos e provedores de saúde, como, por exemplo, aplicativos mais voltados para a omnicanalidade, onde o atendimento inteiramente digital é mais do que necessário.
Inteligência artificial, de forma geral, e sua versão generativa foram os termos da vez e estiveram presentes em todas as mesas e palcos, demonstrando sua promissora ajuda na obtenção de insights a partir de grandes bases de dados e melhorando a precisão no diagnóstico, tratamento de doenças, interpretação de imagens médicas e até a personalização de planos de tratamento. Claro, ressalvas foram feitas quanto à necessidade de garantir a transparência, a ética e a segurança dos sistemas de IA, especialmente no contexto de segurança da informação e regulamentação. Outro tema bem explorado foi a Interoperabilidade e Integração de Dados para todo o ecossistema de saúde.
Por fim, também tive a oportunidade de conferir algumas soluções bem inovadoras, diferentes do que a gente tem hoje, como por exemplo soluções para evitar trombose em pacientes pós-operatórios e robôs andando para cima e para baixo como assistentes hospitalares. Isso, para mim, foi um diferencial grande e aplicável nos próximos anos. Mas vale lembrar que os hospitais dos Estados Unidos possuem corredores extremamente largos, que facilitam a circulação, diferente dos hospitais públicos do Brasil, com raras exceções, que possuem corredores estreitos e muitas vezes com macas e cadeiras ocupadas por pacientes e dificultando a circulação.
De soluções e produtos que já temos acesso, não poderia deixar de citar a experiência que a Orlando Health, rede privada, sem fins lucrativos, de hospitais comunitários e especializados, com sede em Orlando, Flórida, levou para a conferência. Eles montaram um consultório virtual que tinha um TytoCare, replicando a experiência de consulta e exames primários de telemedicina.
O TytoCare é um dispositivo móvel que alia tecnologia e segurança, permitindo que exames físicos sejam realizados à distância, como a ausculta cardíaca, pulmonar e abdominal, otoscopia, oroscopia, entre outros. Além disso, a solução possui gestão de segurança de dados (HIPAA Compliant – EUA e GDPR – União Europeia), certificações internacionais (ISSO e SOC) e hospedagem das informações com alto nível de encriptação (Amazon Web Server).
O americano gosta e usa muito esse tipo de consulta para evitar filas ou salas de espera com pacientes com sintomas mais graves. Esse perfil de paciente prefere não correr muito risco, por isso está muito em voga o tema da teletriagem médica. No Brasil, o TytoCare é certificado pela Anvisa, Anatel e Inmetro, e é utilizado por hospitais, operadoras de saúde, clínicas, home cares, empresas de solução em saúde, universidades de medicina, entre outros.Mas aindaprecisamos pulverizar o conceito de tele triagem entre os brasileiros e mostrar o quanto isso proporciona benefícios para saúde, economiza custos para paciente (não precisa de deslocamento) e redução de recursos para os hospitais, deixando toda a cadeia da saúde mais sustentável.