A saúde no Brasil vive um momento considerado ao mesmo tempo crítico e de transição. Não faltam notícias alarmantes informando que a saúde suplementar está prestes a colapsar no país e, por conta disso, questionando se o SUS seria capaz de absorver um contingente ainda maior de usuários necessitando de seus serviços.
De acordo com Daniel Morel, Diretor Médico da Tuinda Care, startup de inovação na área médica, as razões para o alarme são muitas.
Dentre elas, há os custos elevados de tratamentos modernos recentemente aprovados por agências reguladoras, a obrigatoriedade de uma cobertura ampla e sem restrições exigida pelos clientes, o modelo de remuneração baseado em serviço ao invés de métricas que beneficiem os resultados e as questões envolvendo fraudes que aumentam os custos dos planos de saúde, valores que são repassados aos usuários e levam muitos deles a trocar de plano ou até mesmo a deixar de tê-lo.
“Com esse cenário, temos que olhar como a saúde digital pode transformar a tempestade que vem se agravando ao longo dos anos, uma vez que as pessoas modificaram seus comportamentos”, ressalta Morel.
Durante os anos que compreenderam a pandemia de covid-19, houve um crescimento exponencial do uso de tecnologias aliadas à saúde, principalmente das teleconsultas. Somente no ano de 2023, houve um aumento de 172% dos atendimentos nessa modalidade, que chegaram a 30 milhões, segundo a Fenasaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar).
Morel explica que, com essas mudanças, surge uma série de possibilidades. Por exemplo: desafogar filas em prontos-socorros e UPAs por meio da otimização do cuidado com os pacientes, melhorando a satisfação com o atendimento; levar o cuidado para a casa do paciente mediante a inserção do moderno conceito de “Hospital em Casa”, no qual podemos ter a desospitalização precoce, evitando o risco de infecções hospitalares, e também uma recuperação/cuidado de pacientes com doenças mais graves, crônicas ou paliativas no conforto de seu lar.
Em paralelo, o SUS vem adotando medidas para que a telessaúde faça parte das opções de atendimento. O recente programa SUS Digital teve uma adesão importante dos municípios e pode oferecer um melhor acesso à saúde para os pacientes. Mas existem gargalos que precisam ser vencidos para que a saúde digital se torne uma opção real para a maioria da população, que ainda tem a cultura muito centrada em buscar o atendimento presencial ou emergencial. Essas pessoas precisam entender que a saúde digital é uma solução inteligente e segura para o cuidado médico.
“É certo que a formação acadêmica de toda uma nova geração de profissionais de saúde que já cresceram em ambientes digitais ajuda na adoção e na incorporação de novas tecnologias. Mas, ainda assim, é necessário que haja um movimento para que os profissionais atuantes sejam cada vez mais receptivos às novas ferramentas digitais, pois isso possibilita a otimização de atendimentos e o aperfeiçoamento da capacidade diagnóstica”, ressalta Daniel Morel.
Uma grande barreira para o uso de telessaúde está na visão de que as abordagens são limitadas a um bate-papo entre médico e paciente, o que precisa ser desmistificado. A tecnologia atual proporciona a realização de exames físicos com equipamentos como o TytoCare, dispositivo israelense da Tuinda Care que se equipara aos principais equipamentos médicos hoje utilizados no mercado. Com ele, é possível fazer exames como otoscopia, oroscopia, ausculta cardíaca, pulmonar e abdominal, aferição de frequência cardíaca e temperatura, proporcionando que a avaliação do paciente seja realizada de maneira global e permitindo ao médico formular uma hipótese diagnóstica e orientar sobre qual é o melhor tratamento.
O acesso a esse tipo de tecnologia vem sendo capitaneado por empresas como a Tuinda Care, startup brasileira criada a partir da iniciativa dos hospitais Sabará (SP) e Pequeno Príncipe (PR). Eis um exemplo real de como empresas de vários portes podem contribuir para a ampliação do atendimento via telemedicina e, dessa forma, ajudar a transformar o setor.