Por Daniel Morel – Oncologista e Diretor Médico da Tuinda Care
Cada geração enfrenta riscos de desenvolver doenças e vícios. Hoje, vemos que jovens são expostos ao consumo de bebidas alcoólicas e cigarros, influenciados por amigos, redes sociais e pessoas próximas. Com os cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, há uma falsa percepção de que são menos nocivos que os cigarros tradicionais. Empresas que comercializam esses dispositivos alegam que são mais inofensivos por conterem menos substâncias nocivas. Além disso, os aromatizantes tornam o paladar mais agradável, atraindo os jovens. O vapor produzido é inodoro, o que contribui para sua aceitação.
Um estudo do INCOR (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) revelou níveis elevados de cotinina – um metabólito da nicotina – na urina de usuários de vapes, indicando um forte potencial viciante. Os níveis de cotinina eram equivalentes ao consumo de 20 cigarros por dia. Comparativamente, um vape pode chegar a 1.500 tragadas, superando significativamente um maço de cigarros – 300 tragadas.
Em 2023, estatísticas do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) indicam que 21 milhões de estudantes já usaram cigarros eletrônicos. Destes, 550 mil eram alunos do Ensino Fundamental e 1,56 milhão do Ensino Médio. Dos estudantes que já usaram cigarros eletrônicos, 46,7% relataram uso atual, sendo que 25,2% usam diariamente; 34,7% usaram em ao menos 20 dias dos últimos 30 dias; e 89,4% usam cigarros eletrônicos com aromatizantes. No Brasil, pesquisa recente da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, mostrou que o uso entre jovens é alarmante e, hoje, um em cada cinco jovens brasileiros consome cigarros eletrônicos e é mais popular entre 18 e 24 anos.
A ciência mostra que os vapes contêm diversos produtos químicos e ingredientes que são potentes substâncias que causam vícios. Além disso, também prejudicam diferentes partes do corpo, como o coração e causam danos aos pulmões, sem contar que a agressão contínua seja pelo calor ou pelas substâncias químicas que podem levar ao desenvolvimento de tumores malignos. A nicotina prejudica o desenvolvimento do cérebro até os 25 anos, que até esta fase ainda está em desenvolvimento, o que significa que vicia mais facilmente. Usar nicotina na adolescência e início da fase adulta pode dificultar a concentração, o aprendizado e o controle de impulsos. Ser viciado em nicotina causa estresse, afeta o humor e a concentração, sem contar que a substância aumenta a vulnerabilidade a outras dependências e pode levar a desenvolver sintomas de abstinência ao parar de usá-la. Por isso, o uso de vapes está associado a várias doenças, como doenças cardiovasculares, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e, uma das principais, a EVALI (Injúria Pulmonar Associada ao Uso de Cigarros Eletrônicos ou Vapes). Além disso, o aerossol do cigarro eletrônico não é um vapor d’água inofensivo e a nuvem exalada pode expor outras pessoas a esses químicos.
Diante desses dados alarmantes e todo cenário de risco, é importante que as famílias tenham discussões abertas com os jovens sobre o uso desses dispositivos. Para uma conversa eficaz é importante criar um ambiente seguro, ser paciente e evitar críticas. O objetivo é o diálogo para encorajar o jovem a conversar com outros adultos de confiança sobre o tema. E para os pais que usaram tabaco em algum momento da vida, é importante ressaltar a dificuldade em parar, além de chamar atenção que fumar aumenta a probabilidade de desenvolver doenças e morrer precocemente. Por isso, o melhor mesmo é não começar o hábito e trazer muita informação para prevenir e proteger nossos filhos dos malefícios dos cigarros tradicionais e vapes