Telemedicina contribui para cuidados paliativos de pacientes oncológicos. Estudos confirmam efeitos positivos da assistência remota mesmo em contextos complexos como o tratamento de um câncer
Por Daniel S. Morel, oncologista*
O cuidado de pessoas com câncer é desafiador para a família, para o médico e toda equipe envolvida. Na oncologia, quando nos deparamos com um diagnóstico que não é mais passível de cura, é importante que se incorpore desde o momento inicial a conversa sobre os cuidados paliativos. Muitas pessoas têm o pensamento de que eles são uma sentença de morte, mas o conceito é equivocado.
Estudos demonstram que iniciar esse acompanhamento de maneira precoce e concomitante ao tratamento proposto melhora o cuidado do paciente e de sua família, com efeito positivo não apenas no controle de sintomas do tratamento como da doença em si, trazendo mais qualidade de vida.
Além disso, o paliativista tem uma conversa franca e direta com o paciente e seu núcleo familiar sobre as necessidades, desejos e traça um plano detalhado para a jornada, incluindo o momento em que a doença entrará em uma fase de terminalidade. Assim, quando este momento chegar será menos sofrido e traumático para todos.
Este seria o cenário ideal. Porém, não é o que vemos na prática clínica diária no Brasil. Muitos serviços não dispõem de médicos dedicados aos cuidados paliativos e tão pouco enfermarias ou ambulatórios com este fim. Neste contexto, a telemedicina pode ser uma alternativa.
Tamanha é a importância deste tema que no último Congresso da Sociedade Americana de Oncologia (Asco 2024), realizado recentemente em Chicago, nos Estados Unidos, um dos trabalhos apresentados – o REACH-PC trial – abordou especificamente a introdução de cuidados paliativos precoce em pessoas com câncer de pulmão avançado.
A pesquisa avaliou 1.250 pacientes, que foram divididos em dois grupos para receber consultas presenciais ou por telemedicina para avaliar qualidade de vida, satisfação com o cuidado, presença de cuidadores nas visitas e detectar sintomas de depressão e ansiedade.
O resultado da pesquisa mostrou que a percepção de qualidade de vida foi melhor com o uso da teleconsulta, bem como houve menos sintomas de ansiedade e depressão no grupo que utilizou a assistência remota. Já a satisfação com o cuidado foi similar nos dois grupos, enquanto a presença de cuidadores foi numericamente maior no grupo de consultas presenciais.
Isso mostrou que a telessaúde pode ser uma ferramenta a ser incorporada na prática diária.
Com ela, a pessoa tem a comodidade e independência de realizar a consulta sozinho e no conforto do seu lar, sem necessidade de ajuda de terceiros e preocupações logísticas para se locomover ao consultório, o que é especialmente complexo conforme a doença avança e a condição clínica se torna mais delicada.
Há a necessidade cada vez maior de educar os profissionais de saúde e a sociedade como um todo sobre a importância da adoção do cuidado paliativo precoce, e mostrar também que ferramentas tecnológicas contribuem de forma benéfica nestes casos.
A adoção da tecnologia, quando aliada ao atendimento dos profissionais de saúde, permite que o cuidado seja realizado de modo completo, com qualidade e segurança.
A relação entre médico e paciente tem seus desafios, seja no atendimento presencial ou na telemedicina, que se estabelece em primeiro lugar por meio da confiança, seguida de como é conduzida a consulta. Tudo depende, acima de tudo, de humanização, que é o saber escutar – uma sensibilidade necessária, principalmente para estes pacientes.
* Daniel S. Morel é oncologista e diretor Médico da Tuinda Care